TURCIOS
ERGO UMA ROSA
Ergo uma rosa, e tudo se ilumina
Como a lua nao faz nem o sol pode:
Cobra de luz ardente e enroscada
Ou vento de cabelos que sacode.
Ergo uma rosa, e grito a quantas aves
O céu pontuam de ninhos e de cantos,
Bato no chao a ordem que decide
A uniao dos demos e dos santos.
Ergo uma rosa, um corpo e um destino
Contra o frio da noite que se atreve,
E da seiva da rosa e do meu sangue
Construo perenidade em vida breve.
Ergo uma rosa, e deixo, e abandono
Quanto me doi de magoas e assombros.
Ergo uma rosa, sim, e ouco a vida
Neste cantar das aves nos meus ombros.
José Saramago, poeta, escritor, periodista y dramaturgo portugués. Premio Nobel de Literatura 1998.